De quem é a culpa?

 
Ângela Silvestrin - Professora de Língua Portuguesa da rede municipal de ensino de Farroupilha RS
Fonte: Jornal o Informante 

05 de Agosto de 2011



Culpa é um sentimento que nos acompanha desde a mais tenra idade e que incomoda muito. Por não ser perfeito, o ser humano está sempre a errar, a se questionar: se eu tivesse agido de outra forma, o resultado teria sido melhor? Se minha opção tivesse sido diferente como seria? Como estamos sempre diante de diversos caminhos, é preciso avaliar com os dados que temos para tomar decisões e arcar com as consequências.   Então, o receio do erro, o medo da culpa, são sentimentos paralisantes. Muitas pessoas promissoras, inteligentes e capazes, sucumbem a ele. Se eu errar, o que vão pensar de mim? Se não der certo, como vou ficar? Então acomodam-se, nunca descobrem seu verdadeiro potencial. Isso, por um lado, é confortável, pois a pessoa pensa: eu seria capaz, se fizesse, mas… Por outro lado é terrível, porque causa insatisfação, angústia, frustração.
Formar pessoas criativas, responsáveis, capazes de ousar é papel importante de toda a sociedade. Homens e mulheres capazes de enfrentar seus medos e tomar decisões após analisar dados, contribuirão positivamente em todos os setores. Estou falando desse assunto por haver sentido o medo, a coragem e a culpa de forma muito intensa nos últimos tempos. Em 2008, quando fui candidata a vereadora, senti-me dividida: enfrentar uma campanha, expor-me ou ficar tranquila em meu mundo já povoado de afazeres e atividades?
Sei que tudo passa por decisões políticas, que é necessário que pessoas responsáveis, honestas e corajosas ocupem cargos públicos para governar o lugar onde vivem. Acabei reunindo toda a coragem que tinha e enfrentei meus medos. Recebi 441 votos. Muitos, pois foram de pessoas que se identificaram com meus ideais de acreditar na educação como um dos meios de avanço social e humano. Fiquei na terceira suplência e, agora, em 2011, fui chamada a retribuir a confiança em mim depositada, a assumir a Câmara de Vereadores por um mês.
Queria muito fugir a esse desafio e ficar na zona de conforto. Queria ficar no meu espaço, fazendo meu trabalho da melhor maneira possível, não me expor, não comprar brigas, ignorar o que não estava certo, mas precisava ir. Que faria na Câmara de Vereadores? Abordaria assuntos relacionados à minha área de atuação, é lógico. Foi o que fiz! Expus, atendo-me aos fatos, as dificuldades enfrentadas e solicitei que as soluções fossem encontradas. Foi aí que senti a força da “culpabilização”.
Por apontar problemas, fui acusada de causar os problemas. Entretanto, como foi importante enfrentar o medo, a rejeição, o sentimento de culpa. Foi importante poder dizer: queremos que nossas bibliotecas funcionem, queremos que nossas crianças tenham merenda conforme determina a lei, queremos um projeto que proteja nosso meio ambiente!
Foi importante conhecer o funcionamento da Câmara de Vereadores e a importância de que seja um espaço democrático. Foi importante conhecer a posição de cada um de seus integrantes. Foi importante conhecer as possibilidades e os limites do Poder Legislativo. Portanto, enfrentar o medo, administrar o sentimento de culpa, ponderando sobre se ela é verdadeiramente sua, ou se é o outro que quer atribuí-la a você, é um exercício de coragem, mas também é um meio de você se libertar e contribuir cumprindo com sua missão no mundo.
Vejo, em nosso município, pessoas ousadas, que buscam avanços, embora a tentativa de calá-las seja grande e isso justifique o medo de outras tantas. Vejo a tentativa de intimidação presente em discursos, em ameaças veladas, em boatos espalhados e o quanto isso é prejudicial, tanto às pessoas, quanto às instituições.
No entanto, mesmo que seja perigoso, mesmo que doa, é necessário que levantemos nossas cabeças a exemplo de tantos outros que lutaram e ainda lutam por liberdade, por democracia. Pois, só assim, conquistaremos um lugar onde seja permitido falar a verdade, onde ter opinião própria não seja considerado um crime, onde todos sejam incentivados a vencer o medo e a contribuir com suas ideias, mesmo que contrárias às de quem detém o poder.

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Qual deve ser o número de vereadores em Farroupilha?
19 de Agosto de 2011
Ângela Silvestrin *

O foco da discussão deve ser o número de vereadores, ou o papel que devem desempenhar? Parece-me absurdo, para não usar outro termo, o enfoque que vem sendo dado à questão. Você é a favor ou contra o aumento do número de vereadores? Por que ninguém pergunta: você sabe o que faz um vereador? Ou, o que deveria fazer um vereador?
As pessoas se manifestam contra um maior número, fazem declarações agressivas, parece que as coisas não andam bem porque os vereadores ganham rios de dinheiro e que, pela falta desse dinheiro, tudo anda mal: a saúde, a educação, a infraestrutura… Ora, o que representa o gasto com 10 ou 15 vereadores é insignificante diante do orçamento do município. Agora, se os eleitos fazem jus ao que ganham, aí é outra discussão.
Por ter vivido experiência de ser candidata a vereadora, quero dividir com os leitores as reflexões que vou fazer. Ao abordar as pessoas, durante a campanha, ouvi de muitas o seguinte: aqui tenho “tantos” votos e vou dá-los a quem pagar minhas contas de água e luz, a quem pagar a mensalidade da minha faculdade, a quem colocar o piso na minha cozinha, a quem chapear meu carro, a quem conseguir um emprego para meu filho… Cada um com seu preço!
Ouvi também vozes que diziam: lá vêm os políticos, fecha a porta! Ouvi perguntas como: tu também? Como se eu fosse uma oportunista que estivesse querendo entrar no rol dos ladrões. Ouvi ainda a preocupação de amigos de que se me elegesse me tornaria corrupta, venderia minha alma. De poucas pessoas ouvi: vai, precisamos de pessoas com ideal, com vontade de trabalhar, com conhecimento, com capacidade!
Foram dias difíceis os da campanha! Pensava: como vamos ser cidadãos se as pessoas não sabem o verdadeiro sentido da política, se não acreditam em ninguém, se veem numa campanha eleitoral apenas uma maneira de tirar vantagem? Se não percebem que é uma oportunidade de escolher pessoas capazes de representá-las, de lutar com e por elas? Não sabem que as pessoas que escolherem poderão formular leis justas, que promovam direitos sociais, que conquistem maior bem estar para todos?
Sofri muitas tentativas de suborno, oferta de venda de votos!  O que é incrível é que essas pessoas odeiam os políticos, como se eles surgissem do nada, como se não fossem eleitos por elas. Sim, senhores, por incrível que pareça, vivemos numa democracia e quem escolhe os políticos são os eleitores.
Se são corruptos, não é por acaso, é porque houve quem vendesse seu voto, é porque quem votou não acreditou que seu voto fizesse diferença, é porque acreditou naqueles que ficaram enchendo seus ouvidos dizendo que todos são iguais, por isso tanto fazia votar num ou noutro, é porque quem votou não cobrou, não acompanhou o trabalho posteriormente!
Quanto ao número de vereadores, deveríamos todos ser a favor de um número maior, pois haveria mais gente nos representando! Cabe aqui um raciocínio muito simples. Imagine que o vereador seja realmente representante do seu eleitor. Se Farroupilha possui 60 mil habitantes e tivermos 10 vereadores, cada vereador representará 6 mil pessoas. Já se tivermos 15, ele representará 4 mil pessoas e poderá fazê-lo com mais qualidade. Outra maneira simples de vermos o aumento, é exigirmos que a mesma verba gasta com os 10 parlamentares seja dividida entre os 15, se a questão for por causa do dinheiro.
Para concluir, quero voltar à questão inicial: você sabe o que deve fazer um vereador? Se você souber, vai votar com consciência, vai exigir que seu vereador o represente de fato, vai acompanhar seu trabalho, vai ser seu crítico e seu parceiro. Se você souber, não vai cair em falsos dilemas, não vai ser massa de manobra! Vai ser cidadão e cooperar para que a política seja feita de forma honesta, responsável e competente.

* Professora da rede municipal de ensino

 

 

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