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O QUE TORNA OS JAPONESES J A P O N E S E S ?
Independente do modo de ver os japoneses são um povo superior. O inacreditável êxito em transformar uma pequena cadeia de ilhas, quase sem recursos numa das maiores potências do mundo em menos de três décadas é uma prova disso. O fato do Milagre Japonês ter a contribuição dos Estados Unidos e Europa não invalida a façanha. A sua história moderna é uma série de extraordinárias conquistas. Do regime feudal baseado na ditadura militar, liderada por xoguns, em que havia apenas duas classes: a elite e o povo, mas baseada numa sofisticada e rígida etiqueta que regulava o seu dia a dia, lastreada numa combinação de preceitos xintoístas, budistas, confucionista e daoístas moldaram com a Corte Imperial uma cultura singular.
Em l630 temendo ingerências externas todos os estrangeiros foram expulsos, ficando apenas um pequeno posto comercial holandês. Esta proibição continuou até l850, quando uma frota americana forçou a abertura do país impedindo que a Rússia e Inglaterra chegassem primeiro. Nos anos seguintes houve uma enxurrada de estrangeiros, técnicos, professores e estudiosos na sua cultura sempre fascinante.
A milagrosa recuperação do Japão da devastação da Segunda Guerra Mundial à status mundial é matéria sempre de estudo, buscando-se uma explicação.
Acredita-se que a resposta chave esteja na aculturação peculiar e nas técnicas de treinamento chamadas SHIKATA ou KATA, desenvolvidas e usadas através de séculos pelos japoneses.
SHIKATA é uma das palavras mais usadas e importantes do idioma japonês. Significa a maneira de fazer as coisas, com ênfase na forma e ordem do processo. Raiz da palavra: SHI – apoiar, servir, no sentido de um inferior apoiando e servindo um superior; KATA – por si é forma, maneira.
Nesse universo Kata está em tudo, maneira de ler, comer, escrever, pensar, viver, não existindo uma área que a kata não se faça presente. Vai muito além de um processo mecânico, incorporando as leis físicas e espirituais do cosmo. A ausência de shikata é inimaginável para o japonês, significaria um mundo irreal, sem ordem , sem forma.
Desde o século XIII monges Zen ensinavam aos japoneses que o treinamento mental era tão ou mais importante que o físico na busca da harmonia e no domínio de uma aptidão. Esse aprendizado mental combinava estética com as mais mundanas aptidões, especialmente a luta de espada, teste final na educação de cada um, sendo que o aluno inepto era algumas vezes obrigado a desertar da própria vida. O objetivo final nessa educação era que o aluno se tornasse uno com o objeto de seu treinamento, ou seja o espadachim fundir sua consciência com sua espada, o ceramista com o barro, o jardineiro com seus utensílios, sendo isto alcançado teoricamente. Fazer algo com perfeição se tornava tão fácil quanto imaginá-la. Através dos séculos cada aptidão ou profissão foram reduzidos aos seus elementos básicos, que eram codificados na sua ordem e na composição do coletivo. O condicionamento por toda vida fez com que cada situação tivesse seus exatos processos e formas. Quando uma eventual situação não tinha sua kata, se tornavam incapazes de agir ou por vezes violentos. O fator kata era aplicado a tudo, tendo sempre como objetivo a perfeição, isso os distinguiu dos demais e lhes deu reais vantagens na competição com o mundo exterior.
A característica da cultura japonesa desde os primórdios tem sido a promoção da WA ou harmonia, sempre num contexto inferior/superior da sociedade. Esse empenho religioso pela harmonia as vezes chegava à punições extremas. A constituição do príncipe Shotoku do século VII fazia da harmonia o artigo primeiro, também sabia que a inveja destrói a harmonia, dizia “Quando alguém tem um talento superior, este alguém será objeto de inveja”. No último mandamento dizia “Você nunca deve tomar decisões importantes sozinho, deve discuti-las com todos tipos de pessoas”. Esse esforço para eliminar a inveja, o individualismo e o talento tornou-se vital na cultura japonesa. Durante todo o período Tokugawa (l603-l868) a máxima era. “Evite a inveja, odeie a habilidade, reverencie o passado” Nessa época foram sancionadas várias leis que impediam o desenvolvimento do comércio, a difusão de novas idéias e qualquer melhoria de vida, tudo isso para evitar a inveja e a competição individual. Um dos xoguns decretou “ Você nunca deve criar nada novo”. Essa mentalidade de aldeia ainda prevalece no Japão sob forma de grupos e facções, nos negócios, na política, na educação, em todos os setores. Esse respeito a harmonia é tão forte que ainda hoje os mais competentes e dinâmicos costumam ser descartados, resultando na ascensão de líderes inferiores pelo sistema de senioridade. Contudo começa a surgir contestação, principalmente pela imprensa, trazendo o questionamento ao povo em geral.
Nascido e criado num ambiente cultural resultado de séculos de condicionamento de kata, cada japonês desenvolveu naturalmente um sentido que lhe dizia quando as coisas estavam “certas”, isto é projetadas, fabricadas, montadas e embaladas de acordo com seus conceitos japoneses de estética, com materiais apropriados, formas, sentimentos objetivos e métodos de uso. Estes padrões foram se refinando exigindo que mesmo o produto mais banal seja uma obra de arte, e que todos serviços sejam prestados com perfeita e estilizada habilidade.
Vivendo por séculos dentro da kataizada maneira japonesa, nunca vendo nem experimentando outro sistema de vida diária, desenvolveram fortíssimo sentimento de que são únicos no mundo. Tal comportamento pessoal em relação aos não japoneses se evidência nos negócios com empresas estrangeiras, na política governamental em assuntos externos. Essa singularidade é muitas vezes negativa. Japoneses por terem vivido no exterior quando retornam são tratados em graus variados como proscritos em sua própria sociedade. Crianças que viveram no exterior e esqueceram um pouco o japonês são hostilizadas na escola e até por professores. Grandes empresas tendiam em seguir a política de não admitir funcionários não japoneses. A justificativa era que não japoneses não se ajustam ao sistema. Essa atitude opõem-se às tentativas de internacionalizar o país e presta um desserviço para que o Japão seja admitido na comunidade mundial.
Os japoneses foram condicionados à ajustarem-se à Kata, ou seja fazer as coisas das maneiras prescritas. Um dos efeitos foi torná-los norteados pelo processo e não pelos resultados. Os ocidentais dizem “ Não me importa como você vai fazer, mas faça”, os japoneses dizem “ Só faça isto ser for da maneira correta”. Por esta razão é comum levarem mais tempo no processo de aprimoramento, particularmente na tecnologia, ou quando copiam produtos do exterior. Porem quando os aperfeiçoamentos são alcançados atuam com grande desenvoltura. Então não surpreende que sua atitude em avaliar indivíduos seja: atitude, esforço e resultados. Nas negociações internacionais os japoneses adotam uma atitude ampla e flexível dentro da Kata, enquanto os ocidentais exigem uma posição lógica, direta e de resultados. Não é surpresa que encontros entre japoneses e ocidentais resultem muitas vezes em atritos.
Em conseqüência do condicionamento à que foram submetidos desde o período feudal é comum rotularem o estrangeiro como bárbaro, por não comportar-se à maneira japonesa. Ainda hoje são bastante impressionáveis com as maneiras e atitudes dos ocidentais. Enquanto o estrangeiro for visto como visitante casual existe uma complacência em tratá-lo com cortesia., mas estrangeiros com residência permanente inevitavelmente enfrentarão o choque cultural. Devido a isso é indispensável para empresários, políticos e diplomatas estrangeiros ao tratarem com japoneses se familiarizarem com o sistema de etiqueta Kataizada do Japão e com suas suscetibilidades especiais para evitar desnecessárias hostilidades.
As origens das extraordinárias Kata do Japão podem ser encontradas em uma série de influências históricas à começar pela religião nativa, xintoísmo, crença baseada na harmonia cósmica entre deuses, espíritos, pessoas e o mundo físico da natureza. A introdução do sistema de irrigação do cultivo do arroz, importação do budismo, do confucionismo, do sistema ideográfico de escrita e vários outros sistemas culturais da China.
Os primeiros imperadores do Japão combinavam funções de líderes religiosos e soberanos. Preocupavam-se com a forma quanto com a essência. O princípio do confucionismo a harmonia entre céu e terra, governantes e governados levou ao desenvolvimento de um comportamento altamente controlado, manifestando subserviência respeito para com os superiores. Seja qual for a origem de WA (harmonia) na cultura japonesa ela influenciou sobremaneira sua forma, textura, cor e espírito.
O sistema de cultivo do arroz irrigado importado da China entre l000 e 300 AC teve efeito direto na sociedade japonesa, no seu caráter e comportamento. Pequenas glebas, dependência do coletivo, sistema de irrigação bastante complicado exigiram extraordinário grau de paciência, perseverança, diligência e cooperação. O indivíduo que transgredisse as normas era imediatamente banido do grupo para que o mesmo fosse protegido e mantido. Tal atitude enfurecia a família, amigos, vizinhos e também os deuses. Também havia o conceito Kochi Komin segundo a qual a terra e o povo pertenciam ao imperador, isto estabelecia as condições para o controle absoluto do povo pelo Estado.
Antes do ano 300 d.C. a sociedade japonesa consistia em Clãs, famílias relativamente independentes que exerciam seu domínio em pequenas propriedades. Nesse período um desses clãs tornou-se preeminente na área, hoje Prefeitura de Nara perto de Kyoto e Osaka. Esse clã se auto constituiu a Corte de Yamato, afirmando direitos de soberania sobre o país. A sucessão de imperadores deu unidade ao país e Yamato tornou-se sinônimo de WA- harmonia. A Corte de Yamanto promoveu diversas expedições militares à Coréia, indicando que a harmonia era um contexto estritamente japonês, não se aplicando às relações externas. Esses ataques trouxeram maciças influências culturais Chino-Coreanas através de prisioneiros, imigrantes e mais tarde de mestres e monges chineses. Desde 550 d.C. o intercâmbio Japão-Coréia-China tornou-se rotina. As cerimonias sofisticadas da milenar corte chinesa, seus ministros e mandarins trouxeram os requintes de postura, voz e etiqueta. Com o tempo um sistema de clãs de vassalos e clãs de senhores tornou-se a estrutura política social no Japão. Estes clãs de senhores estabeleceram seus próprios governos modelando-se a imagem da corte imperial, fortalecendo ainda mais o hábito de ritualizar todo treinamento e todo o aprendizado.
Com o sistema chinês de escrita os japoneses também importaram os principais artesanatos e artes da China e os devidos sistemas de ensinamento, aos poucos sendo adaptados para que atendessem a seus gostos. O aprendizado era longo as vezes de uma vida. Meninos aprendiam com os mestres e mais tarde passavam seus conhecimentos a seus aprendizes. Em razão de sua tendência a formalizar tudo devido a Kata, suas técnicas abrangiam ações não só físicas mas também atitudes. Embora isso assegurasse o domínio da técnica impedia que se fizesse novas experiências, o que contribuiu para a estagnação da cultura japonesa durante os últimos séculos da era feudal. Na verdade os japoneses estiveram em treinamento por quase 2000 anos, só conquistando uma liberdade individual à partir de l945.
Pelo início do século XII grande parte da corte imperial fora usurpada pelos senhores feudais, das províncias que mantinham seus próprios exércitos. Em ll80 Yoritomo Minamoto derrotou os demais senhores e tornou-se o supremo líder no país, solicitando ao imperador a aprovação de um governo militar que administrasse questões civis e militares e que permitisse o uso do título de xogum (generalíssimo). O imperador não teve opção e Minamoto estabeleceu seu quartel general em Kamakura , bem distante da capital Kyoto, confiscou as terras dos derrotados distribuindo entre seus aliados. O período Kamakura marcou o início do sistema de xogunato que vigoraria até l868, quando o último xogum foi deposto. Seus guerreiros eram conhecidos como Samurais (guardar ou guardas). A profissão se tornou hereditária. Uma classe de famílias guerreiras, situadas na elite do sistema social. Através de gerações os Samurais desenvolveram sua própria Kata de classe com um código coletivo de pensamento e conduta o “Bushido ou A Maneira do Guerreiro”. No século XIII a prática do Zen-budismo foi rapidamente adotada pelos Samurais. O Zen foi um expressivo afastamento das crenças místicas e esotéricas do xintoísmo e budismo, baseava-se no realismo e praticidade, tinha como objetivo a perfeita harmonia entre corpo e mente através de rigorosa disciplina mental e física. Hoje continuam proliferando os templos Zen no Japão, especialmente entre empresários que descobriram as vantagens da disciplina e filosofia como arma na concorrência com os competidores domésticos e estrangeiros.
A Kata das artes marciais sintetizava o treinamento e o estilo de vida da classe dos samurais. Essa dedicação era tão desenvolvida ao ponto em que a espada era considerada semi-sagrada, representante da alma, espírito e orgulho. Deixar cair ou manipular indevidamente era causa de morte ao infeliz japonês. Sua produção era constantemente aprimorada, cada vez se superando em beleza e solidez. O ensino do uso começava com três ou quatro anos e continuava por toda a vida, sendo que só as classes samurais tinham permissão para praticar esgrima (Ken-do ou A maneira da espada).Quando o sistema dos xoguns chegou ao fim as academias logo começaram a admitir plebeus. A partir de l945 o Kendo tornou-se importante meio de desenvolvimento do caráter em vez da perícia marcial. Atualmente é matéria popular dando sua contribuição, condicionando na etiqueta e moralidade da Maneira Japonesa.
Um dos papéis mais representativos na tradicional cultura japonesa é a cerimônia do chá “Chanoyu”, hábito trazido da Coréia e China em 700 d.C. Costume seguido no princípio por imperadores, cortesãos e monges budistas, tinha a formalidade ritualística de um sacramento. Com o tempo os aspectos cerimoniais foram se abrandando, tornando-se uma cerimônia pública cujo objetivo era desenvolver as qualidades estéticas e o refinado comportamento de cada indivíduo. A Kata do chá abrangia local, roupagem, atitudes e estado de espírito. Seus mestres de cerimônia situavam-se entre os homens mais reverenciados de sua época. Hoje em dia há muitas escolas, centenas de mestres e locais onde os rituais são apresentados regularmente, auxiliando a treinar a habilidade estética, a paciência, tolerância e precisão, exercendo efeito calmante, baixando a pressão arterial e levando a pessoa a um estado de paz.
O Sumô ou luta ao estilo japonês data bem antes do início da história escrita do país. Os admiradores tem pleno conhecimento de sua Kata, desde alimentação, treinamento e técnicas empregadas no ringue. Sobreviveu inalterada, sendo mais popular hoje do que há mil anos. Começou como ritual oracular para garantir boas colheitas e aos poucos foi se transformando em esporte. Sempre vinculado aos costumes antigos, as faixas coloridas à guisa de tanga, a entrada no ringue, o lançamento de sal pelos contendores para purificação, as carrancas que trocam, o agachamento do vencedor em agradecimento pela vitória e o ritual de se fazer rodopiar o arco do ringue ao fim da série de combates. Contando com cerca de setenta maneiras de atacar, tudo isso faz parte da Kata do sumô.
Escrever poesia tem sido um passatempo popular no Japão por mais de mil anos, todavia só entre os séculos VIII e IX com a escrita fonética simplificada baseada no Kan-ji , foi que as mulheres e os demais tiveram permissão para aprender à escrever, resultando numa maciça produção literária. Com a ascensão dos samurais também eles ficaram propensos a sentirem orgulho tanto pelo talento para escrever poesia como pela habilidade com as armas. Era comum samurais feridos gravemente em batalhas dedicar os últimos momentos de vida à compor poemas tanto lamentando morrer como disparando farpas poéticas sobre seus inimigos. Posteriormente tornou-se um hábito seguido pelos jovens pilotos camicases na Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia é um passatempo popular participando de concurso nacional a própria família real.
A tendência dos japoneses à tudo Kataizar está bem sintetizada na representação do Kabuki e do Noh. KABUKI- Originou-se em fins de l600 nos templos xintoístas, por virgens ligadas ao Santuário Izumo em Kyoto. Posteriormente foi substituída pelos homens por se tornarem tão populares as suas danças como a prostituição. Atores transformaram o Kabuki em arte formalizada e estilizada sempre seguindo fielmente o já estabelecido, nada podendo ser alterado. NOH- Arte religiosa do século XIV cuja essência está em que o ator deve fundir toda a sua personalidade na máscara de madeira que usa, exemplo máximo da kataização. Para muito entendidos em arte, forma sem substância mas que continua à atrair grandes platéias.
Um dos segredos do sucesso comercial do Japão é sua ênfase à estética., assumindo à partir de 700 d.C. a aparência e espírito de religião estatal. O sentido estético embora orientado e altamente requintado se refletia em todas as suas atividades, desde o tecer de cestas à produção de papel de embrulho e de tigelas de sopa. Quando em l850 o país foi aberto ao ocidente, os mercadores estrangeiros estavam mais interessados na mão de obra barata e na habilidade japonesa em copiar produtos do que na sua habilidade estética em produzir verdadeiras obras de arte. Depois da Segunda Guerra Mundial tão logo os japoneses puderam ter o controle de suas produções começaram à alterar a qualidade dos seus produtos.
A reverência é um dos mais notáveis símbolos da sociedade japonesa orientada pelo sentido superior – inferior da etiqueta e da importância da kata social em geral. Até l950 devido às mães levarem seus bebes atados às costas, o condicionamento era automático, quando as mães reverenciavam , seus bebes também o faziam. Como é tradição no Japão existe uma Kata para reverência. É preciso saber quando fazer , e que tipo é adequado para uma variedade de situações. Apesar dos jovens pais passarem menos tempo ensinando o velho costume aos filhos, a maioria das grandes empresas está determinada à mantê-lo, seja como programas de treinamento ou com atitudes extremadas que deixam chocados seus jovens estagiários. A arte da reverência é a primeira etapa para a estrita hierarquia tipo militar das companhias japonês, obedecendo sem questionar e devotando suas vidas no trabalho diligente, aceitando o arrastado sistema de promoções.
Outra forma kataizada que os japoneses aperfeiçoaram é a arte da ambigüidade. Constituída para evitar compromissos, desacordos e responsabilidades ajudando à manter uma fachada de harmonia. Na realidade se comunicando de forma clara e até rude com familiares, amigos e subordinados. Segundo os entendidos os japoneses tem grande fobia de serem isolados da corrente principal que evitam manifestar-se claramente até que surja uma posição de maioria. São obcecados com a idéia de que seus pensamentos têm de convergir. Nesse contesto existe os famosos conceitos: TATEMAE- disfarce ou fachada, HONNE- verdadeiros pensamentos e intenções. É também por essa razão que são obcecados por informação e orientação de especialistas e autoridades. Suas conversas são geralmente pontuadas por intervalos que deixam o não iniciado no ar, mas que contem uma série de pensamentos só percebidos nos sintonizados na freqüência dos japoneses. Ele envolve o uso de MA- pausas sugestivas ou “espaços livres”, que se espera sejam preenchidos pelo ouvinte. Ir direto ao assunto não funciona no Japão, é preciso deixar que as evasivas se esgotem naturalmente.
A sociedade feudal japonesa era tão dominada por regras de etiqueta que era praticamente impossível alguém passar um dia sequer sem quebrar uma dessas regras. Para compensar tais exigências foi criada a Kata da escusa, que se tornou parte significante da vida diária. Tornou-se hábito desculpar-se antes, para o caso de cometer-se algum equívoco. Palavras com sentido de muito obrigado, significavam também “Me desculpe ou Lamento muito”. Esta palavra SUMIMASEN significa literalmente “Nunca termina”, em outras palavras “Meu abuso em relação à você nunca termina”. Hoje em dia gerentes de empresas são especialmente treinados na arte das escusas. Apesar de super usado, o hábito de desculpar-se tem considerável peso moral no Japão.
A ética social do Japão feudal baseada no confucionismo tinha como princípio que todos os indivíduos da família e de grupos eram responsáveis pelas ações de cada um, sendo todos punidos pelas transgressões de um. Este sistema contribuiu para uma consciência familiar e de grupo e também para um comportamento robotizado. Cada grupo se protegia controlando o próprio indivíduo. O grupismo ainda é significativo na vida japonesa tanto nos negócios como na política,. Nos negócios em particular é vital conhecer várias pessoas da mesma companhia, tentar trabalhar ou negociar com apenas uma pessoa não dá certo.
Para os ocidentais a faceta mais bizarra e chocante da cultura kataizada do Japão feudal era a prática do suicídio ritual chamado SEPPUKU ou HARAQUIRI. Criado pela classe dos samurais quando em risco de serem capturados pelo inimigo ou dificuldades com o xogunato ou ainda quando recebiam ordens para matar-se. Haraquiri (cortar o estômago) , método escolhido pois exigia extrema vontade e coragem. De acordo com seu estilo de vida altamente kataizado os samurais transformaram o haraquiri em arte formal, cuidadosa e minuciosamente programada. Quanto mais elevada era a posição do suicida maior era o numero de convidados. Tal costume ajuda a demonstrar a intensidade da tradicional cultura codificada do Japão.
Ao final do período feudal l868, o costume de kataizar todas as habilidades e comportamentos permeava a vida japonesa. A maneira de preparar e servir os alimentos, segurar uma xícara de chá, um copo de saquê, roupas usadas de um certo modo, maneira correta para dobrar e guardar coisas, para varrer, esfregar o chão, segurar um leque até caminhar. Qualquer ação que não seguisse a forma prescrita era incivilizado e ante japonês. Com o término da dinastia feudal a educação tornou-se obrigatória. As forças armadas criadas reorganizadas ao estilo ocidental composta de classes populares e comandadas por ex samurais eram exemplos da kata em ação. Aprendiam como combater e morrer mas não como render-se. Cerca de 75 anos mais tarde, o fim da Segunda Guerra foi possivelmente protelado porque não havia Kata para fazer algo inimaginável. Alguns oficiais que queriam o fim da carnificina queixavam-se dessa carência exclamando “Não sabemos como nos render”. Muitas das outras katas foram absorvidas pelos tempos modernos. O país industrializou-se mas não ocidentalizou-se.
Exercendo extraordinária influência sobre a cultura kata em razão da ascendência dos samurais, as artes marciais ainda hoje tem papel importante no condicionamento físico e mental japonês. O judô derivado do jujutsu tem como objetivo o controle mental e físico do corpo, adquirindo força, elevados valores morais e respeito à tradicional etiqueta dos samurais. O caratê ou “maneira das mãos vazias” criado por monges budistas chineses para se protegerem contra ataques de vândalos, visto serem proibidos de usarem armas, foi levado para o Japão no século XIV, sendo modificado e japonizado à sua cultura. Hoje largamente difundida pelo mundo as artes marciais são exemplo da Kata em ação. Baseada no controle total da mente e corpo, na devoção absoluta ao comportamento, no domínio das técnicas de defesa perfeita ou à demolir o oponente e na filosofia moral que integra paz e poder .
A preservação da cultura kataizada foi assegurada quando incorporada à economia industrializada promovida à partir de l868. O nível de escolaridade tornou-se principal qualificação para emprego. Indivíduos que não se ajustassem à maneira tradicional em atitudes e comportamento eram rejeitados. A firme orientação de grupo não encorajando que iniciativas pessoais levassem ao sucesso gente deseducada ou marginais. A relação entre educação kataizada e sucesso tornou-se relevante em todas as áreas. Esse processo de moldagem na infância e adolescência desenvolveu um conjunto de características japonesas que iria desempenhar papel primordial no futuro do país.
1- Sentido de equilíbrio, forma, ordem e estilo
2- Intuíção, precisão e correção
3- Destreza manual, habilidade para trabalhar com coisas pequenas e sofisticadas
4- Dedicação total à tarefa que lhe couber
5- Vontade de ser tão bom ou melhor do que qualquer outro, embora refreando seu talento sob uma máscara de humildade para manter a harmonia do seu grupo.
Na verdade não há restrições à competição com outros grupos japoneses ou estrangeiros. Vale tudo. É uma luta feroz, desde que seja mantida uma fachada de harmonia. Apesar da natureza fechada os japoneses em geral são fascinados por coisas e idéias estrangeiras, adoram analisar e assimilar o que lhes passar pela frente, e se gostarem incorporam à seus hábitos, sem alteração de seu caráter cultural.
Através de séculos os japoneses foram programados com a idéia de que todos os bens que tivessem de produzir tinham de seguir às kata cujo objetivo era a perfeição, empregando-se ao máximo afim de fazer o melhor produto possível, ao contrário do ocidental que pretende o máximo com o mínimo esforço. Um dos aspectos da obsessão japonesa pela qualidade é que ela cobre o produto inteiro, o fundo o interior etc. Muitos produtos ocidentais não passam pelo teste de qualidade dos japoneses.
Os primeiros estrangeiros à visitar o país ficavam particularmente impressionados com o grau de sinceridade e lealdade dos japoneses típicos, à família, aos amigos e empregados. Atualmente parece que para os japoneses sinceridade tem vários significados distintos. Um básico é nunca se enganar ou enganar os outros, ter harmonia interior e toda interação com os outros. Seguir a etiqueta apropriada com a devida conduta e renunciar a qualquer coisa em detrimento aos seus sentimentos mais íntimos. Estes comportamentos podem ser gloriosos ou chocantes, dependendo do conteúdo. Mas como a sinceridade japonesa é baseada na etiqueta e não em princípios universais ela tem um oposto, com uma kata paralela que permite ser insincero quando conveniente. Inclui esta kata não dizer o que se esta realmente pensando, fingir que tudo vai bem, ignorar coisas e pessoas por interesse próprio. Isso estabelece uma nuance sutil e torna difícil para estrangeiros terem confiança em seus negócios com japoneses.
O fator SHINYO ou confiança na sociedade japonesa é uma extensão do fator sinceridade. Não há mistério quanto a isso. Em termos de negócios significa respeitar prazos de entrega, atender reclamações de forma rápida e positiva, fazer de imediato os reparos devidos e manter serviços de conservação. Também inclui minimizar os aumentos de preços notificando com antecedência qualquer alteração e buscando-lhes a compreensão e cooperação. Quem se comporta dessa maneira inspira confiança e respeito de todos e não será difícil conseguir cooperação e ajuda de empresas japonesas. Todavia muitas vezes o fundamento lógico dos japoneses é que não há nada demais em tirar vantagem porque os estrangeiros não são japoneses e portanto essa atitude é plenamente aceitável.
Os japoneses são culturalmente condicionados a ganhar e tipicamente continuam tentando ganhar mesmo sabendo que vão perder. Esta obrigação de vencer ou ser bem sucedido é como sempre inspirada pelo sentido de grupo. Praticamente uma negociação será mantida em tom polida mas firme até que a outra parte ceda e se chega a um acordo, ou canse e desista. Pela experiência de negociadores estrangeiros, eles são menos polidos e até rudes quando estão com vantagem. Tipicamente os japoneses empregam várias outras características culturais quando usam sua kata de embromação, especialmente paciência e docilidade. Esse método kataizado determina que o assunto seja subdividido em pequenas facetas e cada item esmiuçado sob todos os ângulos, assegurando-se que todos no grupo o entendam. Perseverar e estudar tudo por partes é a essência japonesa.
A impressionante indústria turística do Japão é um exemplo ao detalhe, a forma e ao processo dos japoneses. É comum vermos grandes grupos de estudantes e gente das mais variadas associações circulando em massas ordeiras e padronizadas , vestindo-se iguais, em lugares públicos, restaurantes, pedindo as mesmas coisas, mesmos pratos, tudo previamente planejado. Essa kata turística remonta à quase 400 anos. Eram comuns viagens recreativas entre grupos de religiosos à templos e santuários distantes. Ainda mais atraentes eram as grandiosas Procissões dos Senhores. De geração em geração essas grandiosas e coloridas procissões cruzavam as estradas do Japão, agora testemunhado diariamente em todo o mundo entre os milhões de japoneses que anualmente viajam ao exterior.
Os ENKAI são outro exemplo da cultura de grupo. São jantares com grupos específicos de empresários, onde tudo é minuciosamente realizado de acordo com a tradição. A maneira de sentar-se, os pratos, o serviço, o divertimento, seguem um formato que remonta séculos. Os enkai são fontes de inspiração cultural, espiritual e emocional. É possível que o estrangeiro que não domine o idioma e a cultura japonesa não associando-se plenamente ao ritual, seja impedido para sempre de ter um bom nível de entendimento com o Japão.
Não é surpresa que haja uma kata para o beisebol, do modo como é jogado no Japão. O importante não é como você joga e sim como você treina e de que maneira joga. Para desespero de atletas estrangeiros, o clube espera que ele produza no momento certo, quando não há risco de outros jogadores caírem em desgraça, mesmo sendo o adversário. Espírito de classe, de dedicação e disciplina são mais prioritários do que divertimento e criatividade. Isso funciona na automação e linha de montagem, mas quando envolve interação humana complica demais os envolvidos.
De l870 a l970 os japoneses eram abertamente criticados como copiadores e não criadores, mas eram geniais na arte de copiar. Todavia foi essa habilidade que permitiu-lhes tornarem-se a potência econômica baseada em tecnologia que é hoje. Custou um pouco para que adquirissem confiança e melhorassem os produtos que copiavam. Hoje além das cópias em massa, estão entre os bem sucedidos inventores e inovadores do mundo. A kata do aperfeiçoamento gradual que é resumida na palavra KAI ZEN que significa “Aperfeiçoamento Contínuo”.
Durante vários períodos da era feudal “ como vestir-se” era prescrito por lei. Era oficialmente anunciada a data em que o povo deveria trocar suas roupas de verão pelas de inverno, independente das condições climáticas. A codificação da roupa baseada na classe e ocupação se usada de forma errada era ofensa séria. Hoje em dia o condicionamento ainda é forte. A kata para vestir-se se combina com a kata do trabalho, do esporte, do divertimento etc. As industrias de roupas tem tirado grandes vantagens desses fatores culturais.
Existe uma shikata para a graciosidade feminina no Japão. Essa tradicional kata consiste numa simulada atitude infantil e angelical. Essa fingida graciosidade é comum entre as HOSTESES que bebem com os fregueses, ouvem desabafos, agüentam porres, sem necessariamente sair com eles. É também vista em comerciais de televisão, alimentada entre adolescentes que podem de um dia para outro se transformarem em cantoras-ídolos. Tudo kataizado, cada sorriso, movimento de mão, gestos. Todas previamente selecionadas e em espaços curtíssimos descartadas por serem garotas consideradas velhas aos l7 anos. Esse comportamento infantil é uma das razões porque os ocidentais subestimam a maturidade japonesa.
Um sentido de unicidade continua a permear os japoneses tanto histórico como idiomático mas o principal é a sua cultura kataizada. A competição entre os sistemas japonês e ocidental é feroz, muitas vezes gera conflitos pela quase dupla personalidade. Admitem que agir ocidentalmente é um esforço muito violento. Curiosamente os japoneses são bem mais suscetíveis à ocidentalização do que estrangeiros ao sistema oriental. A cultura kata é intrincada demais, sutil, exigente e grupista demais para ser atraente aos estrangeiros. Até l980 era um crença de que a entrada de companhias externas no mercado japonês deveria ser rigidamente controlada e limitada, independente dos benefícios. Ainda hoje muitos irão afirmar que não precisam de produtos estrangeiros. Outra manobra é protelar negociações, pedir tempo, mais testes, mais estudos. Hoje essa síndrome é menor mas continua a prestar esforços em proteger o mercado japonês.
Não há grande mistério por trás dos símbolos que escondem o Japão do mundo exterior, ou que os mesmos vejam o mundo exterior como ele realmente é. Na verdade eles aceitam como naturais contradições e o caos que outros achariam insensato. Não há enfrentamento de conflitos tudo é evitado simplesmente ignorando-os. Coisas que não possam ser rapidamente ou facilmente resolvidas por consenso são em geral toleradas até que mudem ou deixem de existir, espontaneamente.
Os japoneses são historicamente incapazes de aceitar um não japonês em sua sociedade. Essa intolerância não tem nada a ver com raça ou idioma. Coreanos e chineses fisicamente idênticos aos japoneses sofrem o mesmo problema. No seu esquema o estrangeiro é antes de tudo um não japonês, depois um indivíduo e em terceiro lugar um possível sócio comercial. Para ser considerado é preciso nascer no Japão de pais ambos japoneses. Isso não é visto como discriminação apenas eles se consideram maçãs e os outros povos laranjas, e uma questão de critério mantê-las separadas. Existe uma kata especial para visitantes estrangeiros. Já que não representam uma ameaça são tratados de modo que se sintam felizes e impressionados, mas tem o efeito de isolá-los das realidades do Japão. A fina rede de proteção proporcionada pela kata tornam os japoneses extremamente sensíveis a qualquer coisa não prevista e sentem-se pouco a vontade tratando com estrangeiros por não poderem prever o que os mesmos vão fazer, levando à um estresse permanente.
O sistema político como era de se esperar é baseado em grupos (facções) em vez de princípios políticos, obedecendo uma ordem hierárquica de senioridade e longevidade mais importante do que caráter e talento. O sistema funciona internamente, mas em questões internacionais é deficiente por não dispor de um ponto preciso de poder. Também fazem questão que as conversações promovidas pelo Ministério do Exterior sejam em inglês. Isso permite dizer o que o outro quer ouvir, mas mantendo seus comentários afastados da realidade. Parte dessa psicologia é que qualquer coisa que disserem em inglês não conta. Isso aplica-se em geral à todas situações. Uma das barreiras acintosas que é utilizada para manter estrangeiros por fora das notícias quentes nas áreas políticas e comerciais são os famigerados “press clubs”- organizações oficializadas de repórteres japoneses que não permitem o acesso a qualquer outro jornalista. Foram necessários 40 anos para que essa barreira fosse parcialmente amenizada.
A necessidade nata de evitar problemas é responsável pelo hábito japonês de importar idéias e coisas de fora, classificando-as e separando-as do Japão tradicional. Essa iniciativa tem lhes enxertado camadas de cultura estrangeira , sem perderem as suas características. A importação do Know-how ocidental tem na atualidade o objetivo de reforçar sua posição competitiva no cenário internacional, sendo que grande parte da visível internacionalização não passa de fachada.
Além da pressão política e econômica internacional existe uma crescente pressão social que vem daqueles que nasceram depois de l960 e que não foram plenamente japonizados. Esses fatores desembocaram num movimento denominado KOKUSAI-KA que é um termo que interpreta qualquer mudança nos estilos tradicionalmente japoneses. Entre os jovens a disposição é bem sincera e não economizam dinheiro em atividades internacionais como estudar inglês, viajar ao exterior, comer pratos ocidentais, compras em butiques exclusivas. Talvez esteja surgindo um novo Japão mas nunca chegará à ser um Japão ocidental.
Aisatsu é normalmente traduzido por saudações, mas na sua total configuração envolve uma séria de etiquetas sociais: reverencias, troca de cartões, visitas sociais. As aisatsu mudam com as circunstâncias, as vezes requerendo presentes ou até dinheiro como formas de condolências. O tom de voz, movimento de corpo etc. Não é fácil cumpri-las, exige conhecimento, mas é vital na comunicação. DENWA NO KAKEKATA Essa é a kata de como atender ao telefone. Uma das frases mais usadas que cobre quase todas as situações é: “Itsumo osewa ni natte imasu”, significa literalmente “Eu/nós estamos sempre recebendo atenções de sua parte”, tem também conotação “Você está sempre nos ajudando e nós lhe somos gratos”. Desse modo não importa quem, a pessoa sentirá que é bem vinda.
A maioria das grandes companhias japonesas é um microcosmo do sistema kata de trabalhar, com a Shigoto no Shikata ou “a maneira de trabalhar”, desempenhando um papel de destaque. Cada aspecto do trabalho na empresa começa e termina no grupo a que cada um pertença e são estruturados hierarquicamente como pirâmides. As primeiras prioridades são a harmonia, a integridade e sobrevivência do grupo, vindo a seguir objetivos a serem atingidos e se possível superá-los. O sistema kataizado condiciona as pessoas a considerarem qualquer coisa que não seja o máximo de esforço e o máximo em resultados como vergonhoso fracasso. O objetivo é criar um clima que a contribuição de cada um transcenda o objetivo de apenas cumprir a tarefa. Existem dois outros conceitos:
Gambaru- perseverar, não desistir nunca
Isshokenmei yaru- dar o melhor de si
Cada indivíduo está sendo constantemente monitorado e avaliado pelos superiores e registrados na sua escala. O primordial é o espírito de grupo, se o indivíduo alardear suas qualidades será extremamente odiado. É característica na história do Japão que um homem de extraordinários talento e ambição nunca alcance uma posição de liderança porque a síndrome da igualdade , acima de tudo do grupo, acaba por ignorá-lo ou bani-lo.
Toda empresa estrangeira no Japão tem seus “Eigo-ya”, que é uma expressão pejorativa para designar japoneses que falam inglês. É comum haver ressentiamento dos colegas, com a alegação de que os mesmos são favorecidos . Muitas vezes são mesmos. Os que tentam manter a harmonia são muitas vezes forçados a ter duas caras. Os eigo-ya pela constante proximidade com estrangeiros tornam-se mais independentes melindrando os demais. É comum iniciar-se uma campanha surda para afastá-lo. Em geral eles o transferem para uma filial ou o demitem.
Para os ocidentais não iniciados os japoneses muitas vezes parecem passivos, ingênuos, indefesos e simplórios. Isso provoca uma incontrolável vontade de ajudar os humildes e educados japoneses. Na verdade não passa de um disfarce cultural. Muitas vezes tudo o que tem a fazer quando querem alguma coisa de estrangeiros é uma reverência, sorrir, sentar-se e esperar. Na maioria dos casos os estrangeiros vão logo revelando tudo, perdendo seu poder de barganha. A maneira mais eficiente de lidar com empresários japoneses sem entregar o ouro por antecipação é enfatizar que sua companhia pode ajudá-los à prosperar e a manter uma boa imagem ao mesmo tempo, e parar por aí. No momento que você revela detalhes precisos, sua posição passa à estar grandemente enfraquecida, porque é da natureza japonesa absorver a mensagem e repudiar o mensageiro. Nesses casos é preciso muita diplomacia.
Empresários estrangeiros em rápidas visitas ao Japão podem ter a falsa impressão do que pensam ter conseguido. A força plena da kata da cortesia está sempre em ação. Atenção pessoal, hospitalidade, diversões, muitos se iludem e acreditam estarem fazendo progressos. Pura ilusão, o sistema é lento. Informações que em seu país com dois telefonemas você consegue, no Japão só poderá obter depois de uma série de reuniões, por um período de semanas ou meses. Durante esse arrastado processo o empresário deve aderir rigorosamente ao comportamento kataisado esperado pelos japoneses. Não confiar em estrangeiros está profundamente entranhado neles. Lealdade no Japão é uma kata, não um princípio universal. A ostensiva falta de princípios na condução de questões empresariais e políticas é uma das razões da generalizada desconfiança com o Japão. Embora conquistem o respeito dos demais povos por suas realizações, vai ser preciso muito tempo para que possam ser verdadeiramente admirados, merecedores de confiança e imitados por aqueles que os conhecem bem.
Nenhum empresário estrangeiro deixou de conhecer a shikata do lugar em que se deve sentar. Os japoneses são extremamente sensíveis quanto a hierarquia e distribuem os lugares de acordo com a posição e o status. Cada sala ou espaço tem um lugar de honra onde ficam os indivíduos de maior graduação chamado “kami-za”. Outra importante shikata é acompanhá-los até o elevador ou até a porta.
Na vida privada e pública era mais comum o uso de títulos em lugar dos nomes, baseando-se nos postos oficiais e nas ocupações. Ainda hoje existe a ordenada classificação de indivíduos. Ex.: Sr. Carpinteiro, Sr. Policial e por aí. Chefe de Seção em vez de Sr. Kato ou Presidente Sato em vez de Sr. Sato.
No Japão costuma-se dizer com muito de verdade que se você não tiver cartão de visita, você não existe. Quando da troca de cartões “Meishi kokan” dizem: Meu nome é fulano de tal, mesmo que a pessoa que os apresentou já tenha dito seus nomes. Também ninguém se apresenta dizendo seu título como: Sou o Sr. Fulano, apenas Sou Fulano de tal .
A estrutura do escritório é baseada no BU ou departamento e nas KA seções. Lembra uma sala de aula, com vários escalões. O chefe ocupa posição destacada , de frente para várias fileiras de escrivaninhas, tendo visão de seus subordinados. Quanto mais antigo o funcionário mais perto fica do chefe. Cada seção funciona como uma equipe. Os gerentes fazem carreira a partir das posições mais humildes. Tudo lembra uma organização militar. Como os chefes de seção são os que estão nas trincheiras, naturalmente deve saber mais do que os altos executivos, o que se passa na empresa, sendo suas sugestões muitas vezes aprovadas em parte ou no todo.
Ao contrário dos típicos executivos ocidentais que podem tomar uma série de decisões por conta própria, a autoridade individual dos gerentes japoneses é muito limitada. Quanto maior a empresa maior o número de sugestões pelos departamentos. A qualquer momento dezenas de diferentes propostas podem estar concorrendo uma com as outras, o que demanda tempo para que a mesma seja aprovada.
Uma característica mais significativa japonesa é que as pessoas que mais se destacam numa empresa e que parecem líderes, geralmente tem autoridade limitada e muitas vezes poder algum. É muito comum no Japão as coisas serem controladas por trás das cortinas. Existe o “insei” ou vida privada, é uma instituição, sendo que muitos líderes de todas as áreas se aposentam mais cedo para continuar manipulando os acontecimentos.
As relações entre empresas são também kataizadas. Os negócios não são feitos companhia a companhia, eles tem de começar na base pessoa a pessoa, o que significa estabelecer laços de confiança e amizade. A primeira kata para uma aproximação é conseguir uma apresentação de alguém a quem os funcionários conheçam e respeitem. São também importantes apresentações feitas por alguma agência do governo.
O fato da cultura japonesa ser baseada na ambigüidade e contradições acabou por tornar-se uma de suas maiores forças para enfrentar o mundo moderno, principalmente na informática com a chamada lógica imprecisa. Tanto em robôs, sistemas de metrôs, condicionadores de ar etc. Conceito que só agora o ocidente se deu conta.
Antes condicionados à serem apenas plagiadores, a partir de l950 livres de séculos de repressão, começaram à princípio grotescamente mas logo aprimoraram o sentido de estética. Isso lhes possibilitou em poucos anos a criação e confecção de produtos novos, atraentes e úteis.
A obsessão japonesa com os processos sua “religião”, e o esforço contínuo de serem o número 1 no mundo (porque a supremacia é o objetivo final de cada kata) alimentam seu espírito e sua energia.
O sistema japonês de embalagem é excepcional. É considerado de igual importância conteúdo e embalagem. Empresários estrangeiros que tentam vender seus bens de consumo no Japão aprendem essa máxima rapidamente.
Basta ir a uma loja de departamentos para sentir a kata em ação. Funcionários elegantemente uniformizados, chefes em pontos estratégicos. Todos se inclinam e dizem aos clientes que se aproximam. “Sejam bem vindos”. É impressionante a forma, a ordem, tudo irradia confiança, crédito e eficiência. Isso se verifica em todos os campos, nas fábricas, nas áreas públicas, na assombrosa pontualidade de seus trens urbanos. É comum o visitante dizer “Agora eu compreendo porque os japoneses são bem sucedidos”.
A extraordinária cultura kataizada no Japão tinha seus pontos fracos e fortes. Enquanto viveram isolados isso era mantido abaixo da superfície, em nome da harmonia sacrificava-se a individualidade e independência. Transformando o comportamento em ritual, como poderia um comportamento estar errado se era ritual sagrado. Ainda hoje os japoneses dizem freqüentemente “Não nos questione, você tem de nos entender e nos aceitar da maneira como nós somos”. Ao mesmo tempo, a maioria dos japoneses não sabe porque faz o que faz ou o que pode estar perdendo por causa da conformidade da Maneira Japonesa. Contudo eles admitem que precisam mudar, do contrário é como viver num palco em que o desempenho de cada um está sob constante avaliação, contendo o desenvolvimento em que a interpretação individual e os vôos da imaginação são muitas vezes o caminho para a grandeza.
São muitas as teorias que os próprios psicólogos japoneses tem apresentado para explicar atitudes de comportamento típica dos japoneses. Alguns chegam à atribuir ao idioma pela predominância das vogais fazendo que os mesmos captem os sons naturais e artificiais diferentemente de outros povos. Essa diferença de idioma levaria os japoneses à não distinguirem entre a razão e a emoção , porque eles processariam a entrada da informação num lado diferente do cérebro. Quando obrigados a falarem ou a ouvirem um idioma estrangeiro, seus cérebros trocariam de hemisfério, passando ao lado direito, já não conseguindo raciocinar como japoneses, ocasionando grandes transtornos. Na verdade muitos dos atritos entre Japão e o resto do mundo é conseqüência de comunicações inadequadas com freqüências diferentes. Exemplo mais comum dessa descomunicação esta na relutância dos japoneses em dizer não claramente. Ex.: “Vou pensar no caso” significa “Não estou interessado” alguma coisa é difícil quer dizer “Não pode ser feita”. Vou fazer o possível quer dizer “Impossível” e portanto deve esquecê-lo. De qualquer maneira a origem está na cultura e não propriamente no idioma.
Muitos atribuem o comportamento característico dos japoneses ao que se chama de “Integração de conformismo e competição”. Dentro de cada grupo existe feroz competição uns contra os outros, para provar sua total lealdade ao grupo e contribuir para seu desenvolvimento, desse modo tornando-os dinâmico. Por sua vez cada grupo compete ferozmente contra todos os outros grupos. Esse conformismo competitivo gera grande energia e permite que os japoneses façam mudanças bruscas em suas atitudes quando exigidas pelo grupo. A lealdade competitiva conformista se manifesta e eles se superam. Esse sistema de grupo tem origem no sistema de aldeias que existiam desde os primórdios da nação. O sucesso do Japão vem em primeiro lugar da lealdade do indivíduo a seu grupo, em oposições as conquistas pessoais e por extensão a companhia e final mente o país.
A programação cultural a que a maioria dos japoneses foi submetida torna difícil e as vezes impossível que suportem um outro ambiente. Uma lista dos pontos fracos que os próprios admitem ter: Inabilidade para pensar e agir independente, dificuldade em assumir liderança, tendência a manter o status quo, expressar raramente o que realmente esta pensando, apresentar opinião direta, invocar a niponicidade, noção deficiente dos direitos alheios, inabilidade em identificar-se com outras nacionalidades, uma crescente impaciência, grosseria e arrogância.
Outro valor da consciência nacional japonesa é o de que a dominação dos mais fracos pelos mais fortes é um processo orgânico natural. De um modo geral sentem-se superiores aos demais povos por causa do seu extraordinário sucesso econômico. Tendem a considerar que os outros não merecem ter sucesso por serem menos educados e disciplinados. Por extensão os japoneses tendem a acreditar que é certo e apropriado que dominem estes povos. Atitudes e comportamentos que historicamente também existiam nas sociedades ocidentais. Existem influentes personalidades japonesas que advogam a tese do Japão adquirir uma vasta extensão de terra nos EUA numa base de arrendamento por 99 anos e ali instalar centenas de milhares de colonos japoneses proporcionando um planejamento de longo alcance, habilidades administrativas e energia, considerados essenciais para revigorar a economia americana.
Apesar do fato de estarem parcialmente corretos em suas posições sobre relações internacionais na política e no comércio, suas desvantagens culturais tornam difícil e quase impossível que alcancem entendimento e cooperação de países como tanto aspiram. A maneira japonesa, a cultura das kata é sua principal fonte de força e também de suas fraquezas. A maneira como administrarão esse dilema irá decidir o futuro das próximas gerações.
Aprender a ler e desenhar os Kan-ji caracteres chineses, com os quais os japoneses escrevem sua linguagem é um dos fatores mais importantes da sobrevivência tradicional, mas está se desgastando, dos 5000 caracteres hoje reduziu-se à aproximadamente 2000. O surgimento das máquinas de escrever em japonês, dos processadores de texto e dos computadores contribuiu para um desgaste natural. Os futuros usuários de computadores poderão ativá-los pela voz, o que eliminará a necessidade de ler os Kan-ji. Outro fator importante, os jovens já não estão sendo plenamente condicionados, bem como o Japão enfrenta o desaparecimento gradual de sua ultima geração plenamente kataizada. Este rápido desaparecimento dos patriarcas fundadores do Japão moderno e sua substituição pela nova geração , o que acontecerá em duas décadas é vista como a mais séria ameaça que o país já enfrentou.
A maior ameaça imediata a cultura japonesa é a crescente influência de idéias e costumes ocidentais. Com o tempo e distância eliminados pela tecnologia, fronteiras abertas ao intercâmbio turístico e comercial, os japoneses estão sendo expostos ao mundo. Tal influência é demolidora enfatizando a individualidade e responsabilidade pessoal. Os ocidentais tendem à correr riscos. A sociedade japonesa tem distribuído a responsabilidade em grupos atenuando o efeito de seus fracassos. Será necessário umas três gerações para que as mudanças se tornem parte significativa no caráter japonês. O preço a pagar para internacionalizar sua sociedade é alto. Há quem ache que não vale a pena.
Uma das forças de sua cultura é a necessidade de se destacarem em tudo, no que pode ser descrito como psicose nacional. Devido ao seu bem estar econômico muitos japoneses em diversas áreas anseiam tornarem-se o número um, outros acreditam já o serem, mas os japoneses mais racionais ainda negam tais aspirações, alegando que tal sucesso faria com que o mundo se voltasse contra eles e mais uma vez seriam isolados. Eles não são imbatíveis, tem seu calcanhar de Aquiles. A primeira coisa que os estrangeiros precisam fazer ao negociar efetivamente é ultrapassar as maneiras formais ou seja a kata visível. Tudo é atraente e acaba por limitar as faculdades críticas.
Outra maneira de romper as barreiras é não jogar no campo deles. Não existe justiça da maneira ocidental que conhecemos. Seu sistema é hierárquico e exclusivo. Em geral é natural para os japoneses tirarem vantagem de pessoas e situações quando surgem oportunidades, porque estão condicionados à isso. Se você negociar admitindo inferioridade pode até conseguir parte ou tudo que quer, mas geralmente só se isso atender aos objetivos japoneses e preste atenção à que responsabilidades ficou sujeito. É também muito difícil uma sociedade em termos de igualdade. Você pode trabalhar para os japoneses ou eles para você, mas você não pode trabalhar com eles. Tenha sempre as melhores orientações possíveis e saiba que havendo oportunidade vão tentar tirar vantagem de você. As vezes a melhor estratégia é não se esforçar para se adaptar à maneira japonesa. Isso costuma deixá-los aturdidos, rompe suas linhas e derruba suas defesas. A etiqueta e o protocolo são o palco para as negociações, mas tenha em mente as técnicas ocidentais e normas específicas sobre como se aproximar e negociar com instituições japonesas. S A Y O N A R A
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