Uma Mensagem a Garcia

 

Quando explodiu a guerra entre a Espanha e Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com Garcia (chefe dos revolucionários), que se sabia que estava em alguma fortaleza no sertão de Cuba, mas sem saber exatamente onde. Era impossível se comunicar com ele pelo correio ou telégrafo, mas o Presidente tinha que garantir a colaboração de Garcia o quanto antes.

Alguém lembrou ao Presidente: “Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan”.

Rowan foi trazido ao Presidente, que lhe deu uma carta para ser entregue a Garcia. Rowan pegou a carta e nem mesmo perguntou: “Onde é que ele está?”  Como ele se jogou no mar com um barco sem cobertura ou atravessou de um lado a outro um país hostil não vem ao caso, o que interessa é que Rowan entregou a mensagem a Garcia.

Este é o tipo de homem cujo busto merecia ser fundido em bronze e sua estátua colocada em cada escola do país. Não é de sabedoria dos livros ou conhecimento sobre isto ou aquilo que a juventude precisa, mas sim, de um endurecimento das vértebras, para poder se mostrar ativo no exercício de um cargo; tomar conta do recado; ou seja, para levar uma mensagem a Garcia.

O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. Toda pessoa que se empenhou em levar adiante uma empresa viveu momentos de desespero com um grande número de colaboradores, diante da incapacidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada tarefa e fazê-la.

Assistência irregular, desatenção, indiferença irritante, e trabalho mal feito, parecem ser a regra geral. Ninguém pode ser bem sucedido se não usar de todos os meios disponíveis para obrigar outras pessoas a ajudá-lo, a não ser que Deus Todo Poderoso, na sua grande misericórdia, faça um milagre enviando como auxiliar um anjo de luz.

Você pode tirar a prova. Imagine que está sentado no seu escritório e chama um de seus funcionários e lhe pede: “Fulano, por favor consulte para mim uma enciclopédia e me traga uma descrição resumida da vida de Corrégio”. Depois disso o funcionário irá dizer calmamente “Sim, senhor” e executar a tarefa? Nada disso! Irá te olhar perplexo e fazer uma ou mais das seguintes perguntas: “Quem é ele?” “Que enciclopédia?” “Onde é que está a enciclopédia?” “Fui contratado para fazer isso?” “E se Beltrano fizesse?” “Não quer que eu traga para o senhor mesmo procurar?” “Para que quer saber isso?” Depois de responder todas essas perguntas, ele ainda pedirá a ajuda de um colega, e voltará para dizer que tal homem não existe pois procurou na letra “K” e não no “C”.

Existe uma incapacidade de atuar independentemente, uma invalidez da vontade, coisas que recuam para um futuro de socialismo puro. Se as pessoas não tomam iniciativa de agir em proveito próprio, o que farão quando o seu esforço for em benefício de todos? Parece que as pessoas precisam ser sempre cobradas. O que mantém muito funcionário no seu posto e o faz trabalhar é o medo de ser despedido no fim do mês. Anuncie que precisa de um datilógrafo, e nove entre dez candidatos não saberão ortografar nem pontuar. E pior, pensam que não é necessário saber.

Poderá uma pessoa destas escrever uma carta para Garcia?

Hoje se ouve muito dos pobres entes que ficam de sol a sol a procura de trabalho honesto, quase sempre junto com um comentário áspero sobre os homens que estão no poder.

Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num esforço para induzir eternos desgostosos e descontentes a trabalhar conscientemente. Nada se diz da sua procura por pessoal que muitas vezes não faz nada além de “matar o tempo”. Não há empresa que esteja despedindo pessoal que se mostre incapaz de zelar pelos seus interesses, a fim de substituí-lo por outro mais apto. Cada patrão trata somente de guardar os melhores, aqueles que podem levar uma mensagem a Garcia.

Nem todos os patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos.

Todas as simpatias pertencem à pessoa que trabalha conscientemente, esteja ou não por perto o patrão. É a pessoa que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, pega a carta, sem fazer perguntas fora de propósito, e sem a intenção de jogá-la fora, mas com a intenção de entregá-la ao destinatário. Essa pessoa nunca fica “encostada” nem tem que declarar greve para forçar um aumento de salário.

A civilização busca ansiosa pessoas nestas condições. Precisa-se desta pessoa em cada cidade, em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou armazém. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso: Precisa-se, e precisa-se com urgência de uma pessoa capaz de levar uma mensagem a Garcia.

 

de Helbert Hubbard Original publicado em 1º de Dezembro de 1913.

 

 

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